A recente expansão dos negócios no setor do ensino superior no Brasil e a crescente participação de grandes empresas na oferta de vagas do setor privado remontam a políticas educacionais do governo militar. A análise do fenômeno atual deve questionar os reais propósitos dos programas educacionais de governo lançados deste então e a influência que os interesses mercantis exercem sobre eles. A expansão dos negócios no ensino superior privado teve início na ditadura, que fomentou o modelo de universidades lucrativas por meio de incentivos fiscais e repasses financeiros. Nos anos 1990, as políticas federais centralizaram os esforços na educação básica, delegando o ensino universitário à iniciativa privada. Na década seguinte, programas públicos de acesso ao ensino superior como ProUni e Fies acabaram facilitando o papel dos grandes conglomerados educacionais (entre 2007 e 2013, o Brasil foi o país que mais teve fusões, aquisições e incorporações no setor). Em 2012, as instituições privadas movimentaram R$ 30 bilhões (3 vezes mais que em 2009). Hoje, o Brasil possui duas das cinco maiores empresas do mundo no setor educacional, dentre elas a Kroton Educacional (ex-Anhanguera). À medida que o ensino lucrativo se mostrou um negócio altamente rentável, os empresários se organizaram em entidades representativas para garantir seus interesses na agenda pública. Quem perde? Os programas Prouni e Fies são alvos de crítica por se dirigirem à ampliação de vagas no setor privado em vez de criar novas vagas públicas. Além disso, as bolsas se concentram em cursos populares, como pedagogia, em vez de facilitar o acesso a cursos “de elite”, como medicina. Adicionalmente,a qualidade dos cursos ofertados por essas instituições privadas está sob ameaça, subordinada à lógica do lucro. Cabe ainda saber se, a médio prazo, esses programas terão sustentabilidade, uma vez que a inadimplência dos formandos aumenta a cada ano.
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