COLUNA ATIVISTA

Escravidão financeira: Somos todos afetados!

Joana Carda

“O super lucro – que originam os super ricos – é a ponta visível de um sistema econômico opressivo que funciona fundamentado nos princípios da escravidão financeira da grande maioria (similar a escravidão por dívida vigente desde a Grécia antiga). Dívidas injustas – individuais e nacionais – são fabricadas para serem impagáveis e intermináveis. Funcionam apenas para transferir sistematicamente riqueza dos cidadãos mais pobres para as mãos dos ultra-ricos. A opressão não é evidente! Precisamos da ciência para percebê-la e explicá-la.” Há bem pouco tempo ouvi esta afirmação que me soou quase como um desafio que – ao fim e ao cabo – motivara a feitura destas poucas linhas mal escritas.

A centralidade da opressão econômica. De todas as opressões que estruturam o sistema capitalista (machismo, racismo etc.) a que me parece mais cotidiana e recorrente é a opressão exercida pelo modelo econômico. Contemporaneamente, a realidade demonstra que a condição humana na sociedade ocidental é circunscrita na opressão econômica. Este “fenômeno”, por certo, se apresenta em diferentes níveis. Muitos são os países, como o Brasil por exemplo, que estão presos ao “sistema da dívida”, que obriga a destinação de imensos volumes de recursos do orçamento nacional – e que poderiam ser destinados a outras ações – para o pagamento de juros e amortizações da dívida pública, e quase sempre ligados a diversos compromissos ilegítimos e fraudulentos.

Quando olhamos para as pessoas o drama parece ser ainda maior. Seguimos sendo o País com os juros reais mais altos do mundo. O Brasil tem juro real de 6,78% ao ano, seguido pela Rússia, com taxa de 2,78% e pela China com juro real de 2,61%. Estes incidem sobre todos e todas, no crédito pessoal, cartão de crédito e cheque especial! Juros estratosféricos têm impactos sobre os produtos mais básicos e necessários para a qualidade de vida das famílias.

Ao encarecer investimentos e dificultar o consumo das famílias, o juro elevado esfria a economia, afetando a criação de vagas de trabalho. Aumenta exponencialmente o endividamento e a inadimplência dos indivíduos que é, aliás, o principal argumento dos bancos para a elevada taxa de spread bancário brasileiro. Nosso spread também é um dos maiores do mundo. Ele está hoje 21,5 pontos, enquanto que o valor registrado no Uruguai está em 5,9 pontos. No México, Rússia, Austrália, China, Canadá, Coreia do Sul e Japão, o spread está em 3,7 pontos, 3,6 pontos, 3,2 pontos, 3,1 pontos, 3 pontos, 1,8 ponto e um ponto percentual, respectivamente. Ou seja, os bancos aqui ganham até 5 vezes mais do que no México e mais de 10 vezes com relação à Coreia do Sul! Não são todos que perdem!Os juros neste patamar só beneficiam os investidores/especuladores e, sobretudo o lucro dos bancos privados, que são os principais detentores de títulos da dívida pública. Nossa taxa básica de juros, a SELIC, também está no topo das listas mundiais. De acordo com o site Trading Economics, que avalia as taxas aplicadas atualmente por 150 países, o Brasil tem a 14ª taxa de juros mais alta do mundo. Apesar disso, o Brasil é a oitava nação mais rica do globo. Entre os sete países mais ricos, somente China e Índia têm taxa maior que 1%. E somente a Índia passa de 5%. Ainda assim, o Brasil tem quase o dobro (14,25%) dos juros indianos (7,25%).

Por isto que mesmo com economia em recessão, os quatro maiores bancos do País (Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander) tiveram, juntos, lucro de R$ 61,948 bilhões em 2015, um crescimento de 27,1% em relação a 2014.

Joana Carda é militante do Vigência!