No último dia 12 de maio, o senado federal votou pela admissibilidade do processo de impedimento da presidente Dilma Rousseff, dando mais um passo para concretizar o golpe que está em curso. Um dos setores mais relevantes na articulação de todo este processo foi a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) que – como já dissemos antes em nossa nota pública – representa alegórica e simbolicamente os setores mais ricos do Brasil.
A oposição pública e furiosa da Fiesp contra governo federal, à primeira vista, pode surpreender tendo em vista os benefícios tributários, financeiros e creditícios autorizados pela equipe econômica de Dilma. Desde 2011 o volume de recursos renunciados saltou de R$ 197 bilhões ao ano para mais que R$ 385 bilhões em 2014. Houve medidas de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre bens de consumo, diminuição de tributos para infraestrutura aeroportuária e ferroviária (o programa Reporto) e a postergação do prazo de recolhimento do PIS/Cofins para diferentes setores, como têxtil, calçados e móveis. As compras governamentais também foram usadas para apoiar a indústria. Na primeira versão do Plano Brasil Maior, o Planalto aceitou pagar 25% a mais pelos produtos brasileiros nas licitações públicas para o setor da Defesa.
Se o governo do PT nesta última quadra foi tão generoso com este setor, o que motivaria tamanho empenho em apoiar a ruptura democrática que segue? Como diria James Carville, que trabalhou com o ex-presidente Bill Clinton em sua campanha presidencial no início dos anos 90: “É a economia, estúpido!”. Para quem conhece o histórico da federação sabe que os industriais de São Paulo agem orientados pelos resultados no curto prazo.
A curto prazo, para garantir uma melhora econômica mesmo que insustentável (o chavo voo de galinha), é necessário um governo com maioria parlamentar disposto, por meio de um duro ajuste fiscal e da reforma trabalhista draconianas que consideram necessárias. Obviamente não devem ser excluídas outras motivações secundárias, de caráter ideológico, como o patente conservadorismo dos industriais, ou mesmo políticas, como a carreira política do presidente Paulo Skaf, filiado agora ao próprio PMDB.
Não se pode desprezar também o interesse das empresas multinacionais em todo o processo. As grandes empresas de petróleo – ou então as multinacionais da área de infraestrutura e logística – obviamente tem grande interesse em um governo com perfil privatizador e neoliberal, que não dificulte iniciativas como o fim do regime de partilha do Pré-sal, por exemplo. Da mesma maneira que um governo que oriente novamente suas relações internacionais sentido norte (e não mais sul – sul) por óbvio, agradam as grandes empresas sediadas lá.
O que podemos concluir depois de uma observação mais atenta é que todo este processo de impedimento tem pouco a ver com a corrupção estrutural e tudo a ver com a instalação de um modelo selvagem e extremo de capitalismo, que precisa de um Estado fraco, a serviço das corporações, dos rentista e privilegiados.
Joana Carda é militante do Vigência!
Imagem: Laerte.